A VAQUEJADA PRECISA SER PRESERVADA, COMO UMA RICA EXPRESSÃO CULTURAL DO POVO NORDESTINO E NÃO PROIBIDA OU DISCRIMINADA, COMO SE FOSSE UMA ATIVIDADE ILEGAL E CRIMINOSA!

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A Vaquejada enquanto uma expressão cultural, surgiu a partir da “Civilização do Couro”, com a criação de gado por extensão, em que a economia do Nordeste foi submetida, ao longo de vários séculos, após a chegada do colono português por essas bandas de cá, visto ser a região, povoada por várias etnias de indígenas e ainda desabitada por “gente civilizada” e que a Coroa Portuguesa, tinha necessidade de ocupar o território antes que “outros” chegassem a ocupar.
A pecuária foi à única opção econômica imediata, vista ser a região semiárida, com profundas dificuldades climáticas para assegurar a lavoura de subsistência, grandes plantações de cana-de-açúcar ou outros produtos agrícolas de bom desempenho econômico, para os grandes proprietários e para a Coroa Portuguesa.
Assim foram criadas algumas rotas de penetração do homem para o Agreste e Sertão da região, partindo duas de Olinda e uma de Salvador, que percorria as margens dos principais rios da região e instalavam os currais de gado e em seguida, fornecia carne , em forma de carne seca ou charque, para a população dos engenhos e das maiores cidades litorâneas.
Para que esse ciclo se concretizasse, os grandes currais de gado, instalados em cidades e vilas, como Cabrobó, Serra Talhada, Flores, São Pedro, Floresta; Cimbres, Inajá, Tacaratu, Belém de São Francisco, em Pernambuco; Campina Grande, Taperoá, Patos, Pombal, na Paraíba; Crateús e Fortaleza, no Ceará e As margens direita do Rio São Francisco, na Bahia, pela ribeira do Rio das Velhas, das Rãs, Paramirim, Jacuípe, Itapicuru, Real, Vasa Barris e Sergipe, tivesse mão de obra para o manejo do gado, tarefa que foi passado para a população mestiça, que se formou nas caatingas e que desenvolveu uma habilidade impressionante com a lida de gado, os vaqueiros, que com dificuldades de encontrar tecidos que os protegessem da lida com o gado no meio da caatinga, cheio de cactos espinhentos e galho de madeira grossos e agudos, confeccionaram uma armadura de couro para a lida diária nos campos sertanejos, conhecido como “Terno de Couro”, surgindo daí, segundo Capistrano de Abreu, a “Civilização de couro”.
Após um longo período de bom inverno, os Fazendeiros promoviam a “apartação”, grande mutirão envolvendo todos os vaqueiros da fazenda e das fazendas vizinhas, para arrebanhar o gado solto nas caatingas e aprisioná-los no terreiro da fazenda, em currais improvisados, para fazer a contagem dos bezerros que nasceram durante o período, assegurar a ferradura, para assegurar a marca do proprietário da fazenda, curar bicheiras, fazer a castração dos garrotes mais ásperos e tinhosos, separar as vacas gestantes, escolherem as reses que seriam abatidas para a venda da sua carne no litoral, fazer a “aquartação”, que era o pagamento dos vaqueiros, um bezerro ou poldro a cada quatro que nascessem vivos, etc.
A vaquejada surgiu de duas atividades realizadas na “apartação”, detalhe precioso que talvez esses Magistrados do Supremo Tribunal Federal desconheçam, pois muito deles não tem conhecimento nem em que lugar geográfico, fica o Nordeste brasileiro.
A primeira atividade, está relacionada com a prenha ou aprisionamento do gado no mato, pois muitos animais ariscos e selvagens, não vinham para a fazenda de bom grado ou com facilidade, apenas ao som do aboio e a tangida do vaqueiro e do cavalo. Era preciso pegar o boi com as mãos e prendê-lo, colocar pêia e uma venda ou máscara nos olhos, que chamamos de “careta”., para que o mesmo não tivesse tanta resistência para seguir até o terreiro da fazenda.
Corria atrás do gado dentro do mato fechado e derrubava-o, puxando-o pelo rabo ou pulando em cima dele e o agarrando pelos chifres. A outra atividade que ajudou a dar origem às vaquejadas, foi à festança logo após a apartação, quando terminava a lida com o gado, o fazendeiro fazia uma grande festa, movida a muito forro, cachaça e comida farta, geralmente matando umas reses e promovendo a “corrida de mourão”, quando preparavam uma área extensa, coberta de areia ou terra fofa, para que os vaqueiros competissem entre si, mostrando as suas habilidades na lida com o gado e recebessem uma premiação. O gado era preso em um curral (Giqui), soltando-o um animal por cada dupla de vaqueiros, que tinham como função, derrubar um novilho ou boi (não é costume utilizar novilhas ou vacas) dentro de uma determinada área demarcada com antecedência.
As apartações geraram automaticamente, as duas vertentes das atividades festivas, derivadas da lida de gado nos sertões, pois o nosso povo, além de ser alegre, é muito festeiro e divertido. Daí foi surgindo as “Pegas de Mourão, Corrida de Mourão ou Festa de Mourão”, atraindo a população das fazendas, vilas e povoados vizinhos. Por outro lado, surgiu também, a pega de boi no mato, essa atividade esportiva mais complicada, pois a população não tinha acesso a pega do gado no meio da madeira grossa, ficando resumida apenas ao forró no pátio da fazenda, a comida farta, regada com muita bebida alcoólica e a chegada dos vaqueiros, trazendo as reses amarradas ou os símbolos amarrados em seus pescoços.
A vaquejada de hoje, surgiu com a “Corrida de Mourão”, nas antigas apartações nas fazendas de gado e que foi, ao longo das décadas e dos séculos, se popularizando e tornando-se uma das maiores expressões culturais do povo nordestino, das duas principais sub regiões do Nordeste, o Agreste e o Sertão.
Claro, que diferentemente da “Pega de Boi no Mato”, atividade cultural posta em prática por pequenos fazendeiros e tendo o vaqueiro encourado, o cavalo e o gado como principais atrações da festividade e do esporte arriscado e altamente perigoso, pois requer muita habilidade na lida com a vegetação áspera e espinhos das caatingas, a “Vaquejada”, tornou-se um esporte mais elitizado e financeiramente caro, que movimenta muitos milhões de reais, por necessitar de toda uma estrutura para a competição, com prêmios valiosíssimos, quando participam como vaqueiros, não mais o vaqueiro encourado e humilde, mais gente mais “ilustre”, figurões da política, Juízes, profissionais liberais, Vaqueiros profissionais, que fizeram da Vaquejada, profissão e aqueles vaqueiros humildes (minoria), mais atrevidos financeiramente.
Mas, essa característica de um esporte mais “elitizado”, não tira a beleza e a grandeza dessa atividade cultural, que muito tem contribuído para mostrar a valentia, a garra e a coragem do homem que transformou e desenvolveu nossa região, que competindo em uma Vaquejada ou em uma Pega de Boi no Mato, além de preservar as tradições do homem da roça, o homem sertanejo, que foi esculpido pela aspereza e pela dureza de uma região outrora inóspita e hoje muito árida, aprendeu a conviver com a seca e dela tirar o seu sustento.
A tentativa de macular a imagem da Vaquejada, comparando-a com uma “Arena”, palco de tortura e judiação dos animais, especificamente o gado, busca desenvolver uma política de criminalização e repulsa por parte da população, visto que, a maioria da população do nosso país, desconhece a origem, a prática esportiva a importância da Vaquejada como uma vertente cultural, atividade de lazer e de diversão do povo nordestino, levando inicialmente a Lei que regulamentou a Vaquejada no Estado do Ceará, as barras dos Tribunais, para considerá-la inconstitucional e em seguida, vir a banir definitivamente dos nossos estados, a Vaquejada como expressão cultural que nasceu junto com o povo, com a sua economia e com o seu trabalho e sua lida diária nas fazendas, como também, em seguida, criminalizar a Pega doe Boi no Mato, causando um grande impacto negativo na vida da nossa gente, aos nossos hábitos e costumes, além de atentar contra a dignidade da pessoa humana, que tem direito constitucional a preservação dos seus hábitos e valores culturais.
Todos temos responsabilidade em fazer estancar, parar essa política condenatória e de criminalização dessa nossa criação cultural, que não pertence mais ao vaqueiro, a Suprema Corte, Associação Brasileira de Vaquejada ou ao Nordeste. Pertence ao povo brasileiro e fazendo parte de sua cultura e como tal, deve ser obrigatoriamente preservada, estimulada e difundida como patrimônio imaterial do país.
Foi considerada inconstitucional a Lei que Regulamentou ao Esporte de Vaquejada no Estado do Ceará e não a Vaquejada em Si. O Mérito, que é a Vaquejada como atividade desportiva e cultural, não foi julgada em nenhum lugar desse país, portanto, a Vaquejada continua a ser legal e legítima e precisa ser defendida por todos nós.
Josenildo Vieira de Mello
Professor e Produtor Cultural
Presidente da ASSOCIAÇÃO CULTURAL PATATIVA DO ASSARÉ

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