Pneumonia em Cavalos


O que é?

Caros leitores, estamos entrando no período chuvoso e nossos amados cavalos merecem um atenção especial nesta estação do ano, iremos discorrer sobre o que é pneumonia, como tratá-la e o mais importante como prevenir.

A pneumonia é uma inflamação do parênquima pulmonar normalmente acompanhada por inflamação dos bronquíolos e quase sempre por pleurisia. Manifesta-se clinicamente, por aumento na freqüência respiratória, alterações na profundidade e outras características da respiração, tosse, sons respiratórios anormais à auscultação e, na maioria das pneumonias bacterianas, evidências de toxemia.

O que causa?

Pode ser causada por vírus, bactérias ou por uma combinação de ambos, fungos, parasitas metazoários e agentes físicos e químicos.

Muitas podem ser as causas predisponentes de pneumonias nos eqüinos, podendo ser decorrentes de estresse causados por transporte prolongado e inadequado, trabalho forçado em animais débeis e enfermos, intervenções cirúrgicas e debilidade física em geral. Podem também ser conseqüentes a acidentes iatrogênicos ou não, como na intubação pulmonar nas passagens de sonda nasogastricas, ferimentos e traumas torácicos e traqueais, ou introdução de corpos estranhos nos pulmões.

Pneumonia bacteriana?

A pneumonia bacteriana é a colonização do parênquima pulmonar por microorganismos patogênicos. Ela se caracteriza pelo aporte de células inflamatórias, especialmente neutrófilos; destruição tecidual; e perda das funções normais. As vias respiratórias inferiores e os espaços alveolares são normalmente estéreis, sendo protegidos por um arsenal de mecanismos de defesa que efetivamente removem ou destroem os contaminantes bacterianos, em circunstâncias normais. A infecção do tecido pulmonar ocorre quando esses mecanismos de defesa são suplantados.

A pneumonia causada por microorganismos Gram-positivos no eqüino adulto em geral tem como agente etiológico o Streptococcus zooepidemicus β-hemolítico, um habitante normal e oportunista do trato respiratório superior dos eqüinos. Raramente, Streptococcus equi, Staphylococcus aureus e talvez Streptococcus pneumoniae (α-hemolítico) estão associados à pneumonia. Não são raras as infecções bacterianas mistas na pneumonia eqüina. Os microorganismos Gram-negativos isolados de animais pneumônicos incluem Escherischia coli e espécies de Pasteurella, Klebsiella e Bordetella. Os efeitos necrosante dos microorganismos Gram-negativos são aumentados por anaeróbios como Bacteróides fragilis e Bacteróides melaninogenicos.

Pneumonia por vírus?

Os processos virais geralmente ocorrem como epidemias, ou endemias, com alta morbidade e baixa mortalidade e são causados, principalmente pelo vírus da Influenza equi A1 e equi A2, por isso alguns estados estão exigindo atestado de vacinação para Influenza, devido a facilidade de transmissão desta doença aos demais eqüinos, principalmente nas aglomerações como parques de vaquejada. As infecções virais também são muito introduzidas principalmente por inalação, causando uma bronqueolite primária, mas sem reação inflamatória aguda, como ocorre na pneumonia bacteriana. A disseminação para os alvéolos acarreta aumento e proliferação das células epiteliais alveolares e o desenvolvimento de edema alveolar.

Pneumonia por aspiração?

A pneumonia por aspiração ou inalação é uma doença séria e comum dos animais pecuários. A maioria dos casos ocorre após a passagem de uma sonda gástrica ou administração forçada de líquidos por via oral sem os devidos cuidados, no tratamento de outras doenças, o que ocorre com uma certa freqüência no nosso meio, quando se tenta administrar soluções caseiras por via nasal na tentativa de tratar o animal, levando invariavelmente o animal a óbito.

Pneumonia por fungos e outros agentes?

Menos freqüente, embora revestindo-se de extrema gravidade, são as pneumonias causadas por fungos e outros oportunistas como Aspergillus spp, Mucor, Rhizopus e Candida spp. Fungos patogênicos como Coccidioides immitis, Histoplasmas capsulatun e Cryptococcus neoformans podem infectar cavalos imunologicamente competentes e normais, desencadeado quadros clínicos fulminantes.

Sinais clínicos:

Na pneumonia bacteriana os animais apresentam: febre, aumento na freqüência respiratória, corrimento nasal, tosse, e intolerância ao exercício. A febre é intermitente, ou seja: hora tem febre e outra hora não, por isso necessita que o Médico Veterinário faça diversas determinações diárias para demonstração do pico de febre. A tosse pode, ou não, ser espontânea, podendo ainda ser produtiva. A freqüência respiratória é em geral elevada, e a freqüência em repouso é parâmetro muito sensível. Nos casos crônicos, a perda de peso de modo geral ocorre, com ou sem a redução do apetite. O exame físico pode revelar linfonodos submandibulares aumentados.

Na pneumonia viral os achados mais freqüentes são: tosse, secreção nasal, febre, depressão, letargia, inapetência, rigidez, inchaço dos membros.

Diagnóstico:

O diagnóstico baseia-se nos sinais clínicos e na história. A auscultação do tórax revela ruídos expiratórios ásperos aumentados, crepitações e chiados. Pode-se auscultar líquido na traquéia, e a manipulação da traquéia e da laringe pode induzir tosse. Exames complementares como os de sangue a lavagem traqueal para se determinar o grau de alteração orgânica, mais a realização de culturas e antibiogramas, são extremamente importantes para a avaliação de quadro clínico e o tratamento a ser instituído

Exames complementares como as radiografias torácicas são extremamente valiosas para o diagnóstico, prognóstico, e avaliação progressiva da pneumonia eqüina. O achado mais comum é a opacidade na porção ântero-ventral do tórax, compatível com a perda da aeração normal nos lobos pulmonares craniais.

Tratamento:

O tratamento das pneumonias deve incluir obrigatoriamente que o cavalo permaneça abrigado em baias arejadas e protegido do frio e do vento. Deve ser instituídos cuidados de sustentação com o objetivo de minimizar o estresse e garantir ventilação e estado de hidratação adequados. O ideal é que a cama dos animais seja constituída de papel ou outros matérias relativamente livres de poeira ou mofo e que sua alimentação seja constituída de forragem de excelente qualidade livre de mofo.

A terapia para pneumonia bacteriana eqüina deve basear-se nos resultados da cultura e testes de sensibilidade de aspirado transtraqueal. O tratamento deve ser dirigido contra o microorganismo causador, mais, na ausência de resultados microbiológicos, devem ser administrados antimicrobianos de largo espectro.

A terapêutica se baseará em antibióticos de amplo espectro como o cloranfenicol na dose de 10 a 20 mg/kg de peso pela via intramuscular ou intravenosa a cada 6 horas (cuidado é nefrotóxico); gentamicina na dose de 2 a 3 mg/kg de peso pela via intramuscular ou intravenosa a cada 12 horas; ampicilina na dose de 10 a 20 mg/kg de peso pela via intramuscular ou intravenosa a cada 8 a 12 horas; eritromicina (estolato) na dose de 20 a 25 mg/kg de peso por via oral a cada 6 horas; metronidazol na dose 20 mg/kg de peso pela via intravenosa em solução a 0,5 % a cada 12 horas; rifanpicina na dose de 5 mg/kg de peso vivo por via oral a cada 12 horas; sulfa-trimetropin na dose de 15 a 25 mg/kg de peso pela via intramuscular ou intravenosa a cada 8 a 12 horas, ou o tratamento com drogas específicas quando cultura e antibiobrama forem realizados.

Outras modalidades de tratamento que foram preconizadas incluem nebulização e o uso de broncodilatadores e expectorantes, embora a eficácia destes agentes farmacológicos não tenha sido totalmente examinada. Em casos de pleurite deve-se associar ao tratamento convencional a toracocentese (no 7º espaço intercostal direito e 9º espaço intercostal esquerdo), o que possibilita drenar a efusão pleural purulenta.

De acordo com alguns autores não há um tratamento específico para pneumonia viral, e, apesar de a maioria das espécies do Mycoplasma serem sensíveis aos antimicrobianos in vitro, as pneumonias causadas por esses microorganismos não respondem favoravelmente ao tratamento. É comum a prática de tratar pneumonias virais e micoplasmas com antimicrobianos, até que ocorra recuperação, pois essas enfermidades usualmente são complicadas por infecções bacterianas secundárias.

Como prevenir?

A prevenção da pneumonia bacteriana eqüina depende do manejo de fatores que causam impacto nos mecanismos normais de defesa do trato respiratório. A ventilação adequada, propiciando ar fresco e impedindo o surgimento de aerossóis patogênicos é fator importante, especialmente nos meses de inverno, quando os cavalos são estabulados. Baias quentes e úmidas, com condensação da umidade nas janelas, propiciam má qualidade do ar, e prolongam a vida dos patógenos em aerossol. Todos os esforços devem ser evitados para que se faça o uso da cama o menos possível produtora de poeira, e que seja evitado o fornecimento de feno poeirento ou mofado.

Visto que as infecções virais comprometem a integridade do epitélio respiratório, programas de imunização podem ser úteis na redução da predisposição à pneumonia bacteriana. Adultos devem ser imunizados contra o herpesvirus eqüino I (rinopneumonite) e influenza eqüina a intervalos de 3 a 4 meses.

    Visão da narina direita do animal suja com secreção. Secreção verde-amarelada expulsa pelo animal após tosse. Pneumonia bacteriana.


 Pulmão e traquéia de um eqüino com pneumonia aspirativa


 Pulmão de uma potra (7 dias), com pneumonia aspirativa (leite artificial)


 Pulmão de uma burra com pneumonia aspirativa (administração de medicamento caseiro por via nasal - água de fumo e coca-cola)


 Fotos:  Arquivo pessoal Profª Drª Mônica Arrivabene


Drª Mônica Arrivabene

Dr. Willams Costa Neves

Drª Roberta Paulo Barjud de Sousa (Médica Veterinária Rancho SM)

Camila Arrivabene Neves (acadêmica de Medicina Veterinária - UFPI)

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